Brasília, 11 de setembro de 2025 — Em julgamento histórico, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira o ex-presidente Jair Bolsonaro por participação em um plano para permanecer no poder após a derrota eleitoral de 2022. A corte fixou a pena em 27 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial fechado, por conjunto de crimes que incluem tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e dano qualificado, entre outros. O relator do caso foi o ministro Alexandre de Moraes.
Segundo os julgadores, Bolsonaro instrumentalizou aparatos institucionais e buscou apoio de setores das Forças Armadas e de agentes do Estado para efetivar uma ruptura do Estado democrático. A condenação foi aprovada por maioria na Turma (4 votos a 1), com o ministro Luiz Fux votando pela absolvição em relação a parte das imputações. A dosimetria de penas, tabela final de cada condenado, foi anunciada na sequência do voto do relator.
Quem foi condenado hoje
Além de Jair Bolsonaro, a Primeira Turma condenou outros sete réus ligados ao episódio investigado. São eles:
Alexandre Ramagem (ex-diretor da ABIN e deputado federal).
Almir Garnier (ex-comandante da Marinha).
Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF).
Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional).
Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa).
Walter Braga Netto (ex-ministro e candidato a vice na chapa de 2022).
Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro).
A Turma entendeu que os réus integraram, em graus diversos, uma trama para abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe. Alguns réus tiveram parte das acusações moderadas ou tratadas de forma distinta na votação (por exemplo, Ramagem foi alcançado por menos imputações do que outros).
Por que a sentença é histórica
Tribunais e veículos internacionais apontaram que se trata da primeira vez na história republicana do país em que um ex-chefe do Executivo é condenado por planejar um golpe contra a ordem democrática, um marco que, segundo analistas, pode ter consequências políticas e institucionais relevantes. A decisão também repercutiu internacionalmente.
O que é um golpe de Estado?
Um golpe de Estado (coup d’état) é, em termos gerais, a tomada abrupta e ilegal do poder por um grupo, normalmente por forças armadas, agentes do Estado ou uma minoria organizada, sem que haja mudança legitimada por mecanismos constitucionais, como eleições ou impeachment. Diferencia-se de uma revolução por envolver, em regra, ações rápidas e concentradas de atores estatais e sem uma mobilização popular ampla com mudança estrutural. (Definição baseada em enciclopédias e dicionários jurídicos.)
Houve golpes no Brasil antes?
Sim. A história brasileira registra episódios que historiadores e cientistas políticos qualificam como golpes ou rupturas institucionais. Entre os mais citados estão:
Revolução de 1930 — que levou Getúlio Vargas ao poder e impediu a posse de Júlio Prestes.
Golpe do Estado Novo (1937) — autogolpe de Getúlio Vargas que instaurou um regime autoritário até 1945.
Golpe de 1964 — derrubada do presidente João Goulart e início de um regime militar que durou até 1985.
Esses episódios se distinguem entre si (alguns foram golpes militares, outros autogolpes presidenciais) e fazem parte do debate historiográfico sobre ruptura constitucional no país. A condenação do ex-presidente Bolsonaro, contudo, é apontada pelos autos e pela imprensa como a primeira condenação judicial de um ex-presidente por tentativa de golpe no Brasil republicano contemporâneo.
Repercussões e próximas etapas
A condenação abre espaço para recursos e impugnações nos tribunais superiores; a execução provisória da pena depende de decisões posteriores sobre recursos e dos trâmites legais aplicáveis. A decisão também deve provocar desdobramentos políticos, no plano doméstico e nas relações exteriores, e reações de apoio e contestação entre grupos políticos e de interesse. Autoridades internacionais já se manifestaram sobre o caso.
Texto: Daiane Silva |Foto: Rovena Rosa
São Paulo, 29 de junho de 2025
Durante manifestação neste domingo (29), na Avenida Paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que seus aliados precisam conquistar maioria no Congresso Nacional nas eleições de 2026. Segundo ele, com 50% da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, será possível “mudar o destino do Brasil”, independentemente de onde ele esteja, “aqui ou no além”.
“Se vocês me derem 50% da Câmara e 50% do Senado em 2026, a gente muda o destino do Brasil. Não interessa onde eu esteja, aqui ou no além. Quem assumir a liderança vai mandar mais que o presidente da República”, declarou Bolsonaro durante seu discurso.
O ex-presidente ainda destacou que, com maioria no Congresso, sua base poderá eleger os presidentes da Câmara, do Senado e do Congresso Nacional, influenciando diretamente os rumos do poder Legislativo.
O ato, organizado pelo pastor Silas Malafaia, reuniu apoiadores de Bolsonaro no centro de São Paulo. Entre os presentes estavam os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Cláudio Castro (PL-RJ) e Jorginho Mello (PL-SC), além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Com o lema “Justiça Já”, a manifestação concentrou críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que é uma das peças centrais nos inquéritos que investigam tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Por Daiane Silva |Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP
São Paulo, 29 de junho de 2025
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniram neste domingo (29) na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, para um ato convocado pelo pastor Silas Malafaia. A manifestação teve como lema “Justiça Já” e começou por volta das 14h, nas proximidades do vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Além de Bolsonaro, estiveram presentes:
- Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo
- Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais
- Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro
- Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina
- Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL
Durante o ato, manifestantes usavam roupas nas cores verde e amarela e carregavam bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e de Israel. A concentração principal aconteceu próximo ao cruzamento da Avenida Paulista com a Alameda Ministro Rocha Azevedo, onde foi montado um palco.
O pastor Silas Malafaia declarou que “o número [de participantes] é menos importante” e que a manifestação servia para marcar posição. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também comentou sobre a presença do público: “Desafio a esquerda brasileira a colocar 10% da quantidade de gente que tem aqui hoje.”
O protesto teve como foco o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Bolsonaro e seus aliados têm criticado a delação.
Em março, a Primeira Turma do STF decidiu, por unanimidade, aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), tornando réu o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado em 2022.
No dia 10 de junho, Bolsonaro prestou depoimento no âmbito das investigações. Na oitiva, negou as principais acusações, buscou contextualizar reuniões com militares, admitiu exageros na retórica contra o sistema eleitoral e afirmou que não teve envolvimento com planos ilegais.
A proposta de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, defendida por aliados de Bolsonaro, perdeu força no Congresso. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), não colocou o projeto em pauta.