American Pit Bull Terrier: raça amada por uns, temida por outros

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Com mortes e ferimentos graves registrados em diferentes regiões do país, os ataques envolvendo cães da raça Pitbull voltaram ao centro do debate público. Enquanto tutores defendem a raça e pedem por mais educação e responsabilidade, vítimas e autoridades cobram maior rigor na criação, circulação e fiscalização desses animai

Casos recentes

Só em 2024, foram registrados 13 ataques envolvendo Pitbulls, resultando em 6 mortes no Brasil. Os dados, reunidos pela imprensa com base em boletins de ocorrência e relatos de familiares, mostram um crescimento expressivo no número de incidentes.

No início de novembro daquele ano, um pedreiro morreu ao ser atacado por um cão da raça em Ribeirão Pires (SP). Dias depois, duas crianças ficaram feridas após um ataque em um parquinho na zona norte de São Paulo. Em abril de 2025, uma mulher morreu após ser surpreendida por três Pitbulls soltos em Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro.

Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), ligado ao Ministério da Saúde, o ano de 2023 já havia registrado 51 mortes causadas por ataques de cães, o maior número em quase três décadas. Especialistas alertam: a situação vem se agravando.

A origem da raça e o estigma

O American Pit Bull Terrier surgiu no século XIX, a partir do cruzamento de Bulldogs com Terriers, inicialmente para participar de rinhas e esportes sangrentos. Essas práticas foram posteriormente banidas em vários países, mas a fama de “cão de combate” permaneceu.

A raça chegou ao Brasil no fim da década de 1970, com os primeiros exemplares vindos do Rio Grande do Sul. A partir da década de 1990, ganhou popularidade em centros urbanos, sendo criada por famílias e também por criadores amadores e ilegais.

Apesar da reputação agressiva, o padrão internacional da raça exige equilíbrio, obediência e sociabilidade com seres humanos. Ainda assim, o instinto de enfrentamento a outros animais persiste em algumas linhagens, especialmente naquelas criadas sem controle

Especialistas defendem criação responsável

Veterinários e adestradores concordam que o problema não está apenas na raça, mas na forma como ela é criada. A combinação entre predisposição genética e ambiente desafiador pode ser explosiva.

A socialização desde filhote, o adestramento com reforço positivo e a prática de exercícios regulares são medidas fundamentais para evitar comportamentos agressivos. A negligência, por outro lado, pode transformar o cão em um risco, inclusive para a própria famíli

Legislação é falha e fiscalização, limitada

O Brasil não possui uma legislação federal específica que trate da criação ou circulação de raças consideradas de risco. Estados e municípios, no entanto, têm adotado medidas próprias.

Em São Paulo, o uso de focinheira, guia curta e coleira é obrigatório para cães como Pitbulls, Rottweilers e Mastins Napolitanos. No Rio de Janeiro, a criação e comercialização da raça são proibidas desde 2005. Minas Gerais aprovou, em 2025, uma nova legislação que exige castração obrigatória e impede a entrada de novos exemplares no estado.

Apesar das leis, a fiscalização ainda é falha. Muitos tutores não cumprem as regras, e o comércio de filhotes segue ativo em plataformas digitais, sem qualquer controle de linhagem ou histórico de socialização dos animais.


Casos que marcaram o país

Alguns episódios envolvendo a raça chocaram o país:

Em março de 2024, a escritora Roseana Murray, de 73 anos, foi atacada por três cães e teve parte do braço e da orelha arrancados, no Rio de Janeiro.

Bebê de 11 meses morre após ser atacada por pitbull em Bebedouro, SP
Caso ocorreu no início da noite de sexta-feira (23). Criança chegou a ser socorrida e levada ao hospital, mas já chegou sem vida à unidade.

Idosa de 67 anos é atacada por pitbull no interior de SP
Vítima teve ferimentos na cabeça, rosto e mãos. Tutora do animal foi ouvida e vai responder em liberdade por omissão de cautela.

Idosa de 67 anos é atacada por pitbull no interior de SP e tutora do animal vai responder por omissão de cautela | Foto: Polícia Civil/Divulgação

Medidas recomendadas por especialistas

Para evitar tragédias, especialistas apontam um conjunto de ações que vão além da proibição:

Educação do tutor: orientar sobre o perfil da raça, suas necessidades e riscos.

Socialização e adestramento: desde os primeiros meses de vida, com reforço positivo.

Ambiente adequado: cães ativos, como o Pitbull, exigem espaço, estímulos e limites.

Equipamentos obrigatórios: uso de focinheira, coleira e guia em locais públicos.

Regulamentação nacional: leis unificadas, com exigência de cadastro, castração e controle de criadores.

Daiane Silva, 24 anos, é jornalista tocantinense e augustinopolina de berço. Já trabalhou em rádio e fez assessoria política nas eleições municipais de 2024. Apaixonada por livros-reportagem e inspirada no trabalho de Roberto Cabrini, sonha em seguir no jornalismo investigativo. Também pretende se aprofundar em Ciência Política para entender ainda mais sobre o cenário político e social.

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